quarta-feira, 17 de agosto de 2011

MARCHA DAS MARGARIDAS QUEBRA INVISIBILIDADE POLÍTICA DAS TRABALHADORAS RURAIS

Abertura da manifestação aconteceu nessa terça (16), no Parque da Cidade, em Brasília

 


Na solenidade de abertura da Marcha das Margaridas, ativistas e ministros exaltaram o poder de diálogo conquistado pelo movimento de mulheres do campo e da floresta a partir da mobilização social. Desde 2000, elas rumam à capital federal para protestar e cobrar o poder público a cada quatro anos. Na quarta edição, iniciada nesta terça-feira (16), a conquista de espaço junto ao poder público foi motivo de comemoração, mas as demandas por avanços no combate à desigualdade de gênero ainda são amplas.

O primeiro dos dois dias de mobilização começou com a recepção às comitivas de todas as regiões do país. A estimativa das organizadoras é de que 50 mil mulheres estejam instaladas na Cidade das Margaridas, montada no Parque da Cidade, em Brasília. Há expectativa de que seja possível alcançar a meta de 100 mil até esta quarta-feira (17), quando ocorrem as manifestações propriamente.

Os alojamentos onde estão instaladas as mulheres do campo, da floresta e da cidade têm cobertura e piso de lona. Sobre a forração de plástico é que são posicionados os colchonetes durante a noite. As filas longas são regra durante as refeições, mas reina o espírito de solidariedade.

Nesta terça, além de receber as delegações, houve a prepração para a marcha, com oficinas de formação e duas mesas de debate sobre desenvolvimento sustentável, relacionados aos sete eixos que compõem a pauta entregue ao governo na semana passada. À tarde, uma solenidade marcou o lançamento da marcha.

Visíveis
Apesar do atraso de quase duas horas, o ato foi prestigiado por ministros de Estado e parlamentares, além de Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal. Carmem Foro, coordenadora geral da Marcha das Margaridas, secretária de Meio Ambiente da CUT e secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), lembrou que muitas das mulheres deixaram suas casas há dois ou três dias, tomando barco e ônibus como meio de transporte, para chegar até Brasília.

Carmem Foro se definiu como uma "cabocla da Amazônia", citando sua origem na área rural do Pará, que integra o bioma. "Muitas mulheres aqui presentes veem de uma realidade política bem difícil. Muitas aqui eram invisíveis e, desde a primeira marcha, em 2000, conseguimos quebrar essa invisibilidade política. A quarta marcha de amanhã (quarta-feira) tem muita importância para todas as mulheres, porque é a primeira vez em que marcharemos tendo uma mulher como presidenta da República."Rosane Silva, Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT e da coordenação da marcha, ressaltou que o modelo de sociedade defendido pela marcha é um modelo em que todas as mulheres sejam livres de fato. “Nós da CUT não nos sentimos somente parceiros da marcha, mas parte dela, pois a agenda de reivindicações da marcha fazem parte da luta da CUT, com o destaque para duas: a política de valorização do salário mínimo e reforma agrária”.

Rosane ainda destacou a luta por creche pública de qualidade para trabalhadoras rurais e urbanas, atualização do índice de produtividade da terra, além da ratificação da convenção 159 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que prevê igualdade de direitos entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

Estiveram presentes também como representantes da CUT, Vagner Freitas, Secretário de Administração e Finanças, e Jacy Afonso, Secretário de Organização.

Uma das homenageadas foi a pernambucana Elizabeth Teixeira, de 86 anos. Viúva do fundador das Ligas Camponesas João Pedro Teixeira, assassinado em 1962, ela criou sozinha 11 filhos no meio rural. A escolha foi uma forma de lembrar das mulheres ameaçadas ou assassinadas no campo. Segundo a Contag, em 10 anos, as mulheres ameaçadas de morte na região amazônica passaram de 7% para 20% dos nomes listados anualmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Iriny Lopes, ministra da Mulher, foi a única representante do governo a falar. Ela confirmou que, ao participar da marcha, nesta quarta-feira, a presidenta Dilma Rousseff anunciará medidas do Executivo federal para atender à pauta de reivindicações entregue na semana passada pelas lideranças da Contag.

"O Estado precisa fazer sua parte para que seja superada a desigualdade de gênero", defendeu Iriny. "Mas já adianto aqui para vocês que, com certeza, a presidenta Dilma irá fazer diversos anúncios para que sejam cumpridas as pautas que vocês apresentaram a nós nos próximos quatro anos, ainda no governo da Dilma."

O presidente da Contag, Alberto Ercílio Broch, relembrou a primeira marcha, em 2000, quando a mobilização teve como alvo o modelo neoliberal promovido pelo governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Desde então, o ato se incorporou à agenda das mulheres no país e, hoje, é considerada a maior mobilização de mulheres da América Latina. "As mulheres aqui presentes são sofridas, simples, humildes e ajudaram a viabilizar a marcha." Apesar de a lista de reivindicações das ativistas ainda ser extensa, Broch reconheceu avanços em relação à política para os agricultores familiares e para comunidades extrativistas.

 

FONTE: CUT - BRASIL

POR: Tatiana Melim


 

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